quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ao minuto


Depois de 4 dias de mais do mesmo, é sexta-feira. O homem do coração resistente acorda com o despertador às 7 da matina e deixa-se ficar. Não é ele que o manda
mas a entidade que vive na sua mente assim o ordena, e ele diz amen e obedece fielmente, acordando pouco depois com uma mulher que o abana suavemente a dizer que está atrasado. Ele acorda (literalmente) para a vida, veste-se desenfreadamente e corre à cozinha. Não há tempo para sentar e comer, há que agarrar num iogurte e sair porta fora. A meio do caminho, lembra-se que deixou papéis importantes do trabalho em casa. Grita por dentro, e volta atrás. Procura, porque os papéis resolveram esconder-se para ajudar à festa. Ah-ah, risada. Encontra. Sai a correr, e precorre a rua até á estação, acabando por perder o comboio sagrado. E é assim que, às 8h30 da manhã, ele já sua. Em bica.

Do comboio corre para o autocarro, que alguém lhe colocou o local de trabalho no cú de judas, e logo hoje que ele está atrasado. O autocarro parou porque uma velhinha
ficou presa na porta, entrou devagar demais e por pouco não deixou metade de si na paragem. "Deus nos valha", dizem os passageiros. "Tic-tac, tic-tac", ouve ele. E por
isso corre mais ainda quando chega à paragem. mas já se faz tarde, e agora o ritmo de trabalho terá que ser frenético. Corre, escreve, pede para escrever, lê, entrega,
recebe de novo, repete, corre, cansa. Até teve que cortar no almoço, que foi uma sopinha engolida à pressa que, Deus seja louvado, não tem nada que mastigar. A tarde
não o poupa, e o dia de trabalho acaba com ele, sonâmbulo, à espera do autocarro. Para casa? Não. Este homem ainda estuda, e tem dois testes seguidos nesse dia.

Mas o autocarro está atrasado, para variar, e logo hoje. O teste é ás 6h, e ele às 5h ainda o espera. Chegou enfim, viva! A sua entidade mental manda espasmos ao
motorista para que ele acelere, mas há fila de trânsito. São 5h40. Enfim se dá a chegada á estação, e ele zarpa do autocarro, corre, corre, a mala a bater-lhe nas
costas (a tua velhice há de ser bonita de ver). Olhó Sr. Pica na entrada para o terminal, toca a sacar do passe...
...onde está a carteira?

Ele perde o comboio porque volta atrás para ir buscar a carteira ao autocarro que já partiu, e que vai dar a voltinha de meia hora pelo bairro antes de voltar ao sítio
onde ele está agora. Roubaram-na? Caiu? Será que quem a apanhou ficou com ela? A cabeça palpita e as lágrimas já correm, ele sente-se ninguém sem os seus documentos e o seu dinheiro. Quando o autocarro volta, o motorista tem a carteira dele graças a uma simpática velhinha que a apanhou e entregou.Um dos testes foi para o maneta, mas
para o segundo ainda há uma hipótese. Corre outra vez.

Teste feito, comboio apanhado, são 21h30 quando ele mete a chave à porta e se enfia no duche. Jantar e cama (o corpo só pede a cama, implora, geme). Acabou a semana.


Sábado. Chamada para ele, é um amigo que lhe diz:
- Tudo bem?
- Sim, e contigo?
- Tudo. Vamos saír? É Sábado!
- Not in the mood, meu, tou na cama ainda.
- Meu, tu tens que te mexer mais um bocado. Ligo-te sempre, e nunca dá. A tua vida é demasiado parada.

4 comentários:

Alucard disse...

nada melhor do que expor um episódio do quotidiano para realmente explicar o que é o stress... well done. a vida é fodida. E nós nem sabemos a missa a metade

Maggie disse...

LOL.

Muito giro.
Achei bastante piada à corrida desenfreada.

Isso quase parecem os meus dias, mas sem tantos incidentes, e sem contar que eu saio antes e chego depois. Enfim =P

(Sábado passado também dei por mim a negar uma saída. Domingo nem vi a luz do dia, nem da noite.)

Miriam disse...

LOL :P que porcaria de dia, ouve lá!

Muito bem :)

(so nao percebi, que metade da velhinha é que encontrou a tua carteira? a que ia ficando na paragem ou a que entrou no autocarro??:P)

Pseudónima disse...

Olha lá ...e teres um dia normal ou ganhares um Pulitzer, que te valha o dia?

Agora, cá velhas. Antes um dia, comigo. x)