sábado, 31 de outubro de 2009

Dentro


Peço desculpa pela qualidade dos 3D mas não tive tempo para acabar. Dia 10 ou depois devo disponibilizar os paineis no meu blog. Este projecto é um tapume para restauração de uma estátua, na praça do Areeiro. O espaço que pretendo mostrar insere-se no percurso público que crio exteriormente ao tapume e que cria uma praça virada para a Av. Marechal Gomes da Costa e daí arranca um percurso em volta da estátua virando-se para a zona do aeroporto.

Tiago Gameiro

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A Doença


Queria que fosses meu confessionário, por agora. Sei que não ouves, não vês, não lês nem escreves, embora sintas. E o que sentes é a vontade de ouvir o que te pode ensurdecer, ver o que te podia tornar pedra, ler a descrição do teu desejo escrita por minha mão, escrever com liberdade aquilo que me farias se não tivesses as mãos atadas e o coração envolto em arame farpado. Não ouves, eu sei e respeito. Mas então, por agora, sente.


Eu estou fechado. Vendado. Atado. Tenho uma meia vermelha na boca e uma corda na garganta. Por ti. Quero gritar sem som como consegui tantas vezes antes, mas tu és diferente. Contigo, tenho a certeza que gritaria bem alto, destruiria os pulmões, quiçá morreria. Porque a sensação é horrível. Querer tocar, mas não conseguir tocar em mais ninguém senão a ti, e não te poder tocar. As mãos estão suadas, e eu esfrego-as, e esfrego-as, e firo-as. Querer gostar de outra pessoa que não tu, mas só gostar de ti, e não poder gostar de ti. A alma ciranda pelos cantos da mente, às cabeçadas na parede.


Nos meus sonhos, vive um pássaro com o piar mais lindo do mundo, com as asas fortes e resistentes, o suficiente para, pelo menos, chegar a casa. Mas está engaiolado. E não canta. E não voa. E, ao lado, sento-me eu, numa cadeira de baloiço que já abriu buracos no chão de tanto baloiçar. E fixo o pássaro, fico com os olhos embaciados, cheios de água e sangue, e decido levantar-me para o libertar. Não consigo. Olho para baixo. Tenho uma lança no peito, que me trespassa o coração e sai pelas costas da cadeira. E agora? Como saio?


Quero que abras a tua gaiola, a tua boca, e especialmente os teus lábios. Quero que me trespasses, desde que depois me retires a lança do peito. Quero que abras as portas e arejes a mente. Eu estou á tua espera para fazer o mesmo deste lado. Sei que consegues. Afinal, quanto tempo mais vamos fechar-nos longe um do outro, se o jardim lá fora é nosso, e ambos sofremos de um caso raro de claustrofobia?



Pedro Antunes


"A nightingale in a golden cage
That's me locked inside reality's maze

Come someone make my heavy heart light
Come undone bring me back to life"

(Nightwish - The Escapist)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Quarto escuro


Ele diz, de si para si, durante toda a sua espera da velhice:

Não há ar que me chegue, sou um bicho feio e mau, vou cair a qualquer momento. Tenho sede, fome e sono e nem isso me faz sentir mais vivo. Peço esmola de afectos num mundo sem desenho ou ideia do que tal seja. Os meus olhos estão abertos mas sufocam, não têm ar que lhes chegue. Tenho veias que não se acusam e facas de barrar manteiga. Escorre-me a vida vertiginosa, que nem para mim olha, que não mostra sequer sinal de querer saber o que eu penso dela ou de mim.


Já velho, ele diz: Tire-me o cinto e os atacadores, Sr. guarda, que isto assim é demais e de menos para um homem só. E já agora as lâmpadas, que tenho encontro marcado com o papão.
Não há cura para gente tão diferente, isso sim.


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Cláudia Alves




terça-feira, 27 de outubro de 2009

Claustrofóbica Liberdade

Excerto dos rascunhos para uma música dos Underworld Masters:

Claustrofóbico, vagueio pelas ruas de Colónia
e após o futebol permeio pelo meio desta Amazónia...
Não me dirijo a ninguém, não é minha esta euforia
mas na multidão há ali alguém... que parece que já me conhecia...



e está na hora de actuar,
há muito a ser feito,
está na hora de mudar
o facto de liberdade ser só um conceito...


Eduardo Rilhas

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Claustrofobia





Gonçalo Gameiro

domingo, 11 de outubro de 2009

Da minha casa, doce casa, já ouviram falar?


(Karlovy Vary - Czech Republic)

Um dia também vou ter a minha casa de veludo.
Vestir-me como as princesas,
e dançar, voando pelos meu pensamentos, com o príncipe encantado.






PS: Tinha pensado em fotografar uma casa vazia, com apenas 2 pessoas. Mas infelizmente não tive tempo. Isto porque eu sou daquelas pessoas que acredita no amor e numa cabana.


Marta Jacinto

sábado, 10 de outubro de 2009

Escola de Sintra


Tiago Gameiro

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O Visitante


Havia um homem que visitava muitas casas. Passeava, sempre de um lado para o outro, sempre correndo para não perder um autocarro, um comboio, uma rua, uma calçada, um olhar. E enquanto corria, era feliz. Enquanto visitava, feliz era.


Numa das casas que o recebia, lia contos a doentes, ajudava-os a ver para além da escuridão do seu quarto à noite, para além do cheiro a morte nos lençóis. Exorcizava-os para fora de si mesmos e mantinha as coisas-más à distância, deixando-lhes uma parte dele quando saía pela porta. Essa parte dele que lá ficava era o milagre que eles esperavam, a cada pequeno estalo do ponteiro do relógio na cabeceira.


Noutra casa, ensinava crianças a receita para dar sabor à vida. Cobria-os de cores e sons, de vistas e presenças, de sorrisos e de lágrimas. E eles sorriam muito quando ele deixava uma parte sua após ir embora.


Havia ainda uma outra casa (aliás, haviam muitas outras) na qual ele falava de amor e de sonhos, era ouvinte e falante, sentava-se com quem lá estivesse e deixava as palavras fluir como água de nascente da sua boca para fora, palavras estas que eram sempre diferentes, pedaços dele que também lá ficavam.


Este homem ia, ia, ia, e raramente vinha. Era parte de mil lares diferentes, que já não passavam sem ele. E quando voltava, não sobrava nada para o seu próprio lar, pois os seus pedaços estavam espalhados pelo mundo, cristalizados em lágrimas de alegria. E o seu lar gritava, zumbia aos seus ouvidos, exigindo, morrendo por um pedaço, um pedacinho dele. E ele, sugado, sem nada para dar, encolhia-se numa cama qual criança amedrontada em posição fetal, à espera que tudo passasse e que amanha fosse outro dia.


Cansado, vazio, acabava por adormecer, ao som de pensamentos que palpitavam em si, como se uma goteira do tecto pingasse directamente sobre os seus pés


"Tantas casas que me pertencem, e nem um lar que me acolha"
"Tantas casas que me pertencem, e nem um lar que me acolha."
"..."


Pedro Antunes

Rugas


(Pés que andam pela vida’, Jesus Fernandes, 2009. Em www.olhares.aeiou.pt)



Um lar é uma casa não-vazia de afectos. Onde recordamos e imaginamos os nossos últimos momentos felizes. É uma sombra vadia e efémera, mas que fica em nós, entranhada, como se vivesse cá dentro e tivesse pago bem, para aí ficar. É um sítio - não, um local - bem arquitectado pela gente que existe e vive e onde, principalmente, as dores não têm memória. Onde se sente a recompensa de permanecer jovem, ao mesmo tempo que se dá sentido às rugas.




Cláudia Alves

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Heim, uma conversa com o leitor.

Este é o post mais fácil de fazer de sempre. O tema é bastante simples de se explicar com uma frase que um dia me escreveram, com toda a razão:

'If you're always searching, you'll never find a home'.

Toda a razão, mas não sem falhas. Aprendi há pouco que às vezes os lares encontram-se sem os procurarmos, aprendi há pouco que nos podemos apegar a outro lar, sem nunca perder o nosso.

Ando neste momento numa espécie de jornada pela Europa, cada fim de semana: um destino, sensivelmente. E no entanto, quando chego ao terceiro dia no meu novo estrangeiro (leia-se: Bélgica, Holanda, ou outras cidades alemãs, até agora) começo a ficar com muitas saudades do meu lar (leia-se Colónia, durante os próximos cinco meses). Outras vezes, estou por aqui por casa, e fico cheio de saudades do meu lar de nascença, como costumamos dizer por aqui: 'back home' (estremeço um pouco sempre que o digo), Janas, Sintra, até Lisboa, para meu espanto. I'm always searching for something new, but I already found home. Aqui, Colónia. Lá, Sintra.


Na verdade, a frase nem se referia a um lar no sentido de morar, identificarmo-nos com sítios. A frase referia-se a um coração. E sobre isso, penso finalmente ter encontrado o lar mais acolhedor, penso não me ter enganado na porta. I think I finally found home. Não há mais a acrescentar, pois o facto de ter encontrado a minha casa reside na simplicidade de o ter feito, e no amor que nutro pelo ambiente que nela se vive. Eu, o meu amor, e a nossa casinha amarela.


Eduardo Rilhas

terça-feira, 6 de outubro de 2009

home




Gonçalo Gameiro

domingo, 4 de outubro de 2009

Autumn


O Outono tem estado assim, com sol. Apesar disto a foto não é recente.




Como diria Bruno Aleixo, "O Outono é a minha estação do ano preferida".
E é mesmo.
Eu que não suporto demasiado calor, ou demasiado frio, o Outono é a Estação indicada para mim.

Ou seria, se o clima não estivesse todo alterado.

Mas isso é outra história.



Já que estou a postar hoje, queria só deixar aqui os parabéns ao meu amigo Tiago. =P

Marta Jacinto

sábado, 3 de outubro de 2009

O Outono tem Cheiro

- Que cheiro é este?
- Cheira a Outono...
- Por muito boa que seja esta estação, é impossível algo incorpóreo ter cheiro?
- Desde que se associa a estação às chuvas, castanhas assadas, romãs e roupas de inverno com cheiro a naftalina...
- És mesmo louco.
- Pois, mas sou o teu louco.


(Tentativa risória de continuar a conversa da Cláudia. Raios parta ao sol que não deixa tirar uma foto característica outonal)


Tiago Gameiro