quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O silêncio tem palavras





- Não sei quanto mais tempo teremos…sinto-me trôpega, desvanecida, esparramada, caída, outonal.
- Sabes tão bem como eu que nós já cá não deveríamos andar, minha criança eterna.
- Sei. Mas às vezes penso que merecemos estes beijos, este sol, sabes? Esta certeza de sermos, ao mesmo tempo e no mesmo espaço, ínfimos e infinitos. Esta vontade de reconstruir o mundo porque não era nada disto que pensámos vir a ser. Nós não temos nada de quem pensámos um dia vir a ser. Merecemos esta permissão de furto, este roubar de vida à morte coitada, que anda exorbitada de um lado para o outro por não ter mais com quem jogar xadrez.
- É tão adulta que dá pena, a bicha-solitária. (Risos). És a minha estação preferida.
(Silêncio)
- Tu, o meu louco de sempre, a minha alegria além-mundo.



Cláudia Alves

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Outono

É a decadência de pensamento,
nada mais tenho a acrescentar.
Há nostalgia, que vem anunciar
a perspectiva de extremo sofrimento.

É o deserto da angústia pintado
na melancolia da solidão.
E nesta imensa escuridão
nem mesmo o bem é iluminado.

E vivo nesta câmara lenta,
em tons de castanho gasto.
Força hercúlea para um simples gesto
e a consequente inércia que me tenta.

No Outono da vida
terei, talvez, menos folhas caídas.
Com sal, tento sarar as feridas:
auto castigo, por uma mágoa não sofrida.

Mais uma vez enganador,
o poeta da invenção.
(Ou será que não?).


Eduardo Rilhas

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

outono



Orgulho.


Como uma imagem vale mais do que mil palavras (dizem...), aqui fica.


Marta Jacinto

Ps: Sim, adoro nuvens.


Comunicado

Não é irónico as ausências no blog se darem na semana da educação? A verdade é que elas se deram pelas educações dos respectivos ausentes não terem possibilitado a realização dos posts, mas com as novas mudanças, de pessoal e trocas de dias, é possível que esta semana o blog retome o ritmo normal.
Para quem já reparou, o Jorge já não está na lista mas, como membro fundador, está convidado a participar e acompanhar-nos quando bem entender. Esta sexta, em princípio, teremos a participação de Diana, convidada por mim e pelo Gonçalo.

Em nome do blog peço desculpas aos leitores, pelo incumprimento, mas asseguro-vos que os próximos posts serão bem melhores, do que os anteriores.

Tiago Gameiro

sábado, 26 de setembro de 2009

Graffiti















Tiago Gameiro


Comunicado:

Por razões escolares, Jorge Ressureição não tem possibilidades de colaborar semanalmente connosco, deste modo o seu dia ficará a cargo de Gonçalo Gameiro e sexta-feira da próxima semana, teremos uma nova companheira.
Desculpem pelas duas ausências e continuação de uma boa leitura.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Amazing, isn't it?


Educação. Ui. Hoje em dia, tem tanto que se lhe diga. A sua definição ou forma como é encarada difere de país para país, de família para família, de casa para casa, de pessoa para pessoa. É, nos tempos que correm, um tema delicado q.b. Há que ter cuidado. Eles andem aí. Não sei quem, mas andem.


Para este tema, não me arriscando muito, decidi, baseado na minha própria ideia de educação, fazer uma pequena e inocente lista de coisas que me fascinam. A sério, fascinam-me mesmo. Ora aqui segue:


- Fascinam-me as pessoas que se sentam no comboio e metem os saquinhos, as pochetes e o casaquinho no(s) banco(s) vazios em redor, e quando alguém lhes pede delicadamente que os removam para que se possa sentar, fazem cara de nojo e demoram uma eternidade a mudar as coisas de sítio.


- Fascinam-me as senhoras de raça negra que se sentam ao lado umas das outras e falam entre si como se sofressem todas de uma surdez tipo mórbida, ou estivessem cada uma em sua montanha.


- Fascinam-me as pessoas que ficam especadas à porta do metro quando este abre as portas, à espera que os passageiros saiam, e não saem da frente de quem quer sair, e acham que estão a ser umas fixes porque deixam as pessoas sair antes de entrarem.


- Fascinam-me ainda mais as pessoas que vão no comboio e, quando este pára, desatam a empurrar toda a gente para chegarem à porta e saírem, e quando levam um safanão ficam chocadas e dizem "Mas o que é isto???"


- Fascinou-me muito uma senhora que veio ao quiosque da Olá, pediu um gelado de nata com topping de menta e pepitas de chocolate, e quando lho entregaram disse "CHÉ, ISSO NÃO LEVA FRUTA???".


- Fascinam-me os pais que levam as crianças no comboio, e quando estas desatam aos berros porque querem sei-lá-o-caralho-que-as-foda, passam 20 estações a dizer-lhes "não" para lá mais para o fim da viagem lhes darem o que elas pediram. Para isso, faziam logo a vontadinha e poupavam os outros ao berreiro.



Enfim, eu em dois dias (é incrível como bastaram 2 dias) assisti a coisas destas e a outras que tais, reuni a pequena lista, e deixo agora então aos colegas e a quem quer que vá lendo este blog o julgamento de como vai a educação nos nossos dias. E há quem diga que tende a piorar. Enfim. Cheers.


(P.S. Agora vendo esta reflexão no p.arteculta, vê-se que tem muito pouco de "arte" ou de "culta", mas vá, aliviemos a tensão de vez em quando.)
Pedro Antunes

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Maturidade


Aprende de uma vez que eu nunca te hei-de servir de xaile ou de qualquer pano-tecido que proíba às pedras da calçada de escrevinharem nos teus pés. Enquanto fores cego com intenção e não quiseres aprender a receber e a sorrir, talvez nem de mim precises... nem para mim olhes, porque eu, eu talvez nem seja suficiente + interessante para preencher os teus silêncios noctívagos e paranóicos.


E depois falas-mede idade! Também eu tive a idade de brincar e de ser boneca, de me arrancarem as pernas e a cabeça, à procura de uma suposta perfeição. A maturidade não tem resposta matemática. Esta antes vive na acção posterior ao momento em que nos apercebemos que também a brincadeira mata, que também ela esfola, que ela é a dona e senhora dos nossos cantos mais podres. Pedagogia insensata, a noção de didáctica da sociedade do foge ou mata.


Gosto de ser desinteressante, pelos menos ninguém me chateia.

Cláudia Alves
(Fotografia encontrada, não minha)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um pouco de (má) educação...

A educação que nos dão é esta, está aí mesmo para as pessoas verem em montras de loja de electrodoméstico, ou mesmo em placares publicitários.
A educação que nos querem transmitir é a do politicamente correcto e da merda deste país do correcto que deve passar despercebido para que ninguém note que ele existe.
A educação que nos querem transmitir são clichés como estes, como tudo, como a vida.
Eu represento o contrário da educação que te dão, filho da puta, abre os olhos deixa de ser um mero clone.
Eu represento o anti-dogma, auto-destruição de valores adquiridos, injectados pela seringa da sociedade. Viciante.
Eu represento tudo o que não está correcto aos olhos de Cascais, Belém, S. Bento e a tua casa, quando esta é de bem.


E no teu encalço surgirá
o monstro da mediapulação,
que o cérebro ao povo arrancará,
e este não poderá criar uma opinião.

Filho da puta pensa por ti,
uma mente solidificada.
Escolhe bem quem manda por ti,
na cara sorriem, nas costas mandam facada...

Versos que parecem vir da barraca,
mas, na verdade, só te espeto com um pouco
de (má) educação para que do fundo do poço
emerjas, em vez de seres ninguém, nada...











Eu sou a educação que a tua mãe nunca te deu. Eu sou a revolta contra o pré-estabelecido, anarquia de estilo. Eu sou desenhos animados em filmes de acção. Eu sou nada a ver com nada e tudo de novo, a partir de meios banais. Eu sou poesia no meio de prosa, nunca sendo prosa poética. Eu sou contra todo o tipo de educação que nos ponha palas nos olhos. Eu sou contra arrogâncias de interpretações, nunca saberão tudo, filhos da puta...

Eu sim, sou liberdade. Eu sou um pouco de (má) educação.


Eduardo Rilhas

domingo, 20 de setembro de 2009

It's Cloudy Over Germany !

(Foto tirada do avião)


Enquanto passava por ali, pensava:
que sonho seria pousar em cima das nuvens,
deitar-me, e esperar que os dias passem, e as nuvens me levem.

Quase que dá vontade de saltar e agarrar um pedacinho de nuvem.
É um dos meus sonhos, poder deitar-me em cima de uma.
Parece-me impossível de conseguir.
E isto foi o mais perto que estive de concretizar o meu sonho.


Marta Jacinto


sábado, 19 de setembro de 2009

Falso Messias


Óleo sobre papel
2009, Tiago Gameiro

Dedicado àquela que me tem feito viver um sonho, há um ano para cá... Amo-te

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

sem titulo 2



Gonçalo Gameiro

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Meu Sonho Dormente


Por baixo dos lençois de meu coração, dorme o meu sonho andante. De luzes apagadas, num quarto só dela, artéria que pulsa com a sua respiração, bombeando-a por todo o meu corpo. E tremo, quase não respiro, como se outro ar cortasse o meu, e só um deles pudesse sair.


Adormecida já há muito, não a vejo desde a última memória que tenho, já gasta e tremida como a mente que a guarda poeirenta, em decadência e necessidade de ser substituída. Contudo, vejo ainda perfeitamente os seus cabelos negros que lhe dão pelos ombros, sua tez pálida mas viva e reluzente, seus olhos de mulher sóbria, forte e decidida, seu sorriso move-montanhas, sua voz quebra-meu-peito. Amo-a.


Amo meu sonho, e dentro de mim, ela sonha. E cá fora, sonho eu, vivo lá dentro. Sonho que andamos por calçadas gastas, ou que flutuamos por cima do mundo. Umas vezes ela pede que me sente, e beija-me o pescoço, fiel, e os meus arrepios são reais. Perduram para lá do sonho. Outras vezes, esvaio-me em sangue e chamo por ela, que lá vem, a correr, descendo de um céu distante como que por degraus invisíveis, mas os seus pés nunca chegam a tocar o chão onde morro. E acordo, sem sangue, com feridas interiores que duram e duram para lá do sonho.


Um sonho é o grito de uma alma por algo mais. É a nossa maneira de moldar a realidade, servindo-nos de um mundo alternativo que temos dentro de nós e que por isso podemos moldar livremente. É o que mantém grande parte de nós vivos. Ela é real, e vive por aí. Ela é sonho, quando a tenho nos meus braços alternativos, para lá dos cobertores que me aconchegam a alma enquanto durmo. E junto peças, escrevo sonhos, vivo mentiras e aguardo a queda do mundo, a passagem para o outro lado através de um portal de água salgada, como se feito por mil lágrimas de cada pessoa que chorou por amor. Porque, por agora, sonho acordado. E quando ela acordar - Deus meu - tudo o resto dormirá.


Pedro Antunes

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Menina Potter

(Fotografia de Beatrix Potter, autor desconhecido)


Existiu a Beatriz. Havia quem a distinguisse por haver nascido já com cabelos grisalhos e com os joelhos ofendidos com o já vivido. Ria muito, ria à gente, com o mundo, sozinha. Ria quando lhe apetecia rir e quando queria chorar, ria mais e fazia rir. Mas o que mais a tornava ela era a forma de caminhar: quase sempre a correr, sem relógio disponível que lhe impusesse algum tipo de ordem nos tornozelos. Era tanta a beleza que a esmagava que havia a certeza que um dia Beatriz se aperceberia que aquilo não era real. Quando pensava nisto, havia um formigueiro de luz que a mandava para o chão selvagem e, como num sonho, acordava. Voltava a casa, triste, sem uma palavra ou ruga que identificasse a pauta do seu peito. Aí, havia quem a distinguisse pelo jeito róseo e tímido, pelo medo sem explicação, pela quietude amorosa dela no fundo do quarto, deitada no chão gelado, sem saudades nem ambição.




Para sorte minha, guardo-a sempre a rir e a correr muito como uma lebre em tempo de caça, com amnésia de onde vive e onde pertence. A rir, e a preto e branco.






(Há gente que tenta com cara de esforço encontrar palavras para explicar uma coisa em processo de contagem regressiva. Há quem tenha esperança e não saiba o que fazer com ela. Há quem não durma. E ainda há os primeiros a ir; os que não querem, simplesmente, saber.)
Cláudia Alves

Take me back to our Midsummer Night's Dream(s)

BOTTOM [Awaking] When my cue comes, call me, and I will
answer: my next is, 'Most fair Pyramus.' Heigh-ho!
Peter Quince! Flute, the bellows-mender! Snout,
the tinker! Starveling! God's my life, stolen
hence, and left me asleep! I have had a most rare
vision. I have had a dream, past the wit of man to
say what dream it was: man is but an ass, if he go
about to expound this dream. Methought I was--there
is no man can tell what. Methought I was,--and
methought I had,--but man is but a patched fool, if
he will offer to say what methought I had. The eye
of man hath not heard, the ear of man hath not
seen, man's hand is not able to taste, his tongue
to conceive, nor his heart to report, what my dream
was. I will get Peter Quince to write a ballad of
this dream: it shall be called Bottom's Dream,
because it hath no bottom; and I will sing it in the
latter end of a play, before the duke:
peradventure, to make it the more gracious, I shall
sing it at her death.

A Midsummer Night's Dream,
Shakespeare




Os sonhos são difíceis de explicar como só Shakespeare o consegue, assim como o Homem, que não passa de um burro, que não passa de asshole.


Eduardo Rilhas
(desculpem o atraso, tive problemas com os horários dos comboios (festas de erasmus, nao devia ser desculpa, mas pronto) e depois com o login).

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um Sonho Português

Sem ti, nada tem sentido, nada é igual.

Olho a plenitude e o infinito e

não há nuvem mais bela que o teu sorriso.

Hoje, vagueando por esta cidade-Tejo,

omito aquilo que fui para que faças o que hoje sou.


Sobrevoo mais uma vez esta Lisboa,

orando para que o meu voo não termine nunca.

Navio-gaivota que se seguem mutuamente,

Helena-Páris deste Portugal cinzento apaixonado.

Ora. Ora por este sonho junto de Zeus ou Júpiter.


Se alguém, algum dia, zombar da nossa fantasia,

ouve o que te dizem com um sorriso perfeito.

Nesse sorriso, estará a minha realidade escondida.

Haverá sorrisos irreais, de êxtase, de nirvana.

Ouve quem tos criticar pois serão pão para o nosso sonho.


Jorge Ressurreição

domingo, 13 de setembro de 2009

Praha

Inicialmente pensei em relatar outro tipo de viagem, uma espécie de retro ou introspecção.
Mas como tenho andado meio ocupada, vou apenas mostrar imagens da melhor viagem da minha vida, que me permitiu uma espécie de mudança.

Eu não fui sozinha, mas era como se fosse. Só eu me conhecia.
O mês fora permitiu não só conhecer pessoas de outro país, como pessoas com quem eu já me teria cruzado milhares de vezes na faculdade.

Hábitos alimentares completamente diferentes dos meus, não foram um problema. Bem, se calhar até foram, porque regressei com uns quilos a mais.

É de olhar, maravilhar e ficar boquiaberto. (Experiência pessoal)

Espero que gostem.

Malostranská



Old Town Square



Petřín Lookout Tower @ Petřín Hill



St. Vitus Cathedral, Prague Castle (Pražský Hrad)


Once more, Old Town Square



Prague seen from above @ Petřín Lookout Tower


Malostranská Stanice @ Linka A




Marta Jacinto

sábado, 12 de setembro de 2009

Viagem Sensorial



Bateria composta e tocada por


Tiago Gameiro

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

bóra bóra



Gonçalo Gameiro

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Sub-Viagem


Por muito que a paisagem e as faces mudem a cada passo que damos, por muitas mãos que se enlacem e desenlacem, por muitas voltas que a Terra dê e por muitas vezes que a vida nos troque o passo e o verso, moldando à sua vontade o chão por baixo dos nossos pés, a verdadeira viagem é interior. Ou, se não é a mais verdadeira, é aquela que nunca deixamos de fazer durante toda a vida, e a que nos dá provavelmente a maior riqueza de todas.

Planeta: Mente; Fauna: Pensamento; Flora: Sonho


Na Mente há uma grande mansão, onde há quartos nos quais se respira e cantos em que se sufoca. Às vezes há Pó que se forma no chão e ácaros que esvoaçam pelo ar. E há que arejar o espaço. Quem já abriu as janelas da Mente descobriu uma paisagem sem fim nem horizonte, e fala em pétalas que acariciam a brisa, numa entidade que faz chover vida, em florestas que escondem perigos fascinantes e num céu repleto de mundos que olham lá de cima. Tesouros para os nossos olhos interiores.Mas o verdadeiro respirar não é, obviamente, para quem observa com receio da paisagem interior, mas sim para quem sai.


Quem deixa a mansão inspirar outra coisa que não o nosso ar expirado, e se lança à aventura dentro de sim mesmo - pá e enxada na mão, mochila nas costas, sinceridade nos gestos -constata que por vezes não há melhor opção que viajar sozinho (leia-se consigo, em si, no sub-eu). E pelo caminho, há mil tesouros que se encontram, seja um lado artístico escondido numa orla da estranha floresta, ou a dependência de alguém especial, enterrada algures na terra macia e fértil sobre a qual chove intensamente, e onde apanharíamos pneumonias mentais só pelo ensejo de sentir. E tudo vale a pena, mesmo as silvas e urtigas que é preciso ir removendo pelo caminho.


E não é este o grande viajar? Colher sonhos, amar dores, descansar em seios amados e sobreviver aos perigos do interior. Quase todos conhecem as ruas onde moram e as ruas que visitam, mas poucos se conhecem verdadeiramente. Poucos não se temem. Por isso, abramos as janelas. Deixemos a mansão e aproveitemos a estrada. Sejamos felizes. Connosco e com os outros. Boa viagem.


Pedro Antunes

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Litost



«Se me esqueceres, só (te peço) uma coisa, esquece-me bem devagarinho.»


Mário Quintana

Mesmo que o bem feito e dado seja renunciado e as mãos disfarcem o antigo toque, sei que quem se entrega às peles e veias nunca pode esquecer de forma cabal, verdadeira, o que um dia sentiu ao adormecer. Posso estar errada, mas gosto.

Existe tanto que viaja por nós. Existe um mundo que não nos pertence e, apesar da sua fixa e sádica consciência, se nos entale na dor que é ser feliz para se morrer. Eu quero ser ar do puro, morder a mala até à última paragem, viver do suor e das lágrimas mas ser eu a que parte, em vez de tanto que me fere os sentidos com a sua queda. Que parte por mim, que não deixa aviso ou pista sem ser o bilhete de passagem sem uso, por cima da mesa da sala.

O nó no roupeiro vazio, o mel nas pantufas oxidadas, a presença de flores carcaças, finadas em jarra faz hoje dois meses. Sorrisos emigrantes meus, no teu bolso de algibeira. E a mais doce viagem que os meus lábios ousaram fazer, na tua boca.


«Imagino que o mundo cresce em volta de Tamina, cada vez mais alto, como um muro circular, e que ela é uma relvazinha cá em baixo. Sobre essa relva cresce uma só rosa, a recordação do marido.»

em O livro do Riso e do Esquecimento, de Milan Kundera


Cláudia Alves

terça-feira, 8 de setembro de 2009

As viagens dentro da Viagem

Querida parceira de Viagem,




Já faz um bom bocado que seguimos Viajando. Desde quando? Desde que decidimos juntar as mãos e percorrer esta nova estrada, seguindo por um nevoeiro que apenas descobre o que existe mesmo à frente do nosso nariz. Nevoeiro esse que as pessoas chamam banalmente de futuro. Apesar disso, sinto-me com cinto de segurança posto e continuo convicto que a Viagem ainda agora começou.

Juntámos as mãos sem ter muita força para as apertarmos e logo uma cancela se fechou num cruzamento que encontrámos. Outra viagem, cruzou em alta velocidade, qual comboio que atravessa uma passagem de nível, a nossa Viagem. Tivemos de esperar 3 meses nesse cruzamento até a cancela se abrir novamente. Foi duro, claro. Mas foi um comboio que só se pode apanhar uma vez, que nos enriquece até ao final das nossas vidas e o que dentro dele aprendemos fica para sempre marcado em nós, de forma positiva ou negativa.

As mãos continuavam apertadas, e senti que com mais intensidade, com mais vigor, com mais força. Fomos apertando cada vez mais, como anacondas que encontraram as suas presas... Chegámos ao ponto do sufoco, um sufoco sempre confortável que é como fogo de paixão que nos consome sem nunca nos destruir, a menos que se extinga.

Após mais alguns quilómetros de Viagem, quase sempre calmos, sem furos, sem grandes despistes, sem acidentes, eis que de novo surgem complicações. Outra oportunidade de ouro, que não pode deixar de ser aproveitada, outra viagem dentro da Viagem. Temos estado sempre de mãos apertadas, e o nevoeiro continua a desvendar mais alcatrão à frente. Depois disso? Que a Viagem siga sempre e quebre barreiras ou cancelas, que as viagens passem a fazer parte da Viagem, juntos, e não em separado como temos vindo a fazer até agora, não por nossa culpa, eu sei. Em suma, que a Viagem se torna NA Viagem. E que estes viajantes vejam sempre prazer e diversão na partida para o desconhecido, conhecendo-se, juntos.

um beijo,
O teu Viajante.




Eduardo Rilhas

Viagem: sabedoria, saudade, cultura, conhecimento

Antes de mais, peço as minhas desculpas pelo atraso. Cheguei já depois da meia noite por isso, já não estou a escrever no dia que me compete mas o que interessa é a intenção. Fui viajar (nem a propósito) e cheguei tarde.

Ora, ultimamente, o tema "Viagens" tem sido alvo de grandes conversas da minha parte com outras pessoas. Tenho me deparado com pessoas bastante próximas que decidem partir... e eu aqui fico, fico demonstrando sabedoria na despedida, tentando não fraquejar; fico transparecendo saudade (como diria o Poeta: "Esta palavra saudade / sabe ao gosto das amoras / cada vez que tu não vens, / cada vez que tu demoras."); fico com a esperança de que estas partidas me ajudem também a tornar-me mais culto e aumentando o meu conhecimento.


Eu, de vez em quando, também sonho em viajar. Já fui a Paris (WOOOW) e foi lindíssimo. A sensação de partir para algo desconhecido mas que anseamos conhecer é, sem qualquer dúvida, algo de fantástico. Uma adrenalina enorme.

Tenciono conhecer, pelo menos, todas as capitais europeias. É o meu primeiro grande objectivo no que toca a viagens. A próxima será Londres, se Deus e a minha mãe quiserem. Em Outubro, lá estarei a passear por aquelas ruas, com o meu cachecol, e entrarei num teatro para assistir a um musical.

Viagens é sinónimo de partir, é sinónimo de saudade. Melancolia, talvez.

Em modo de despedida, deixo-vos uma cantiga de Simone de Oliveira com o título Viagem:




Jorge Ressurreição

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Novidades

Este blog anda atento ao que se passa na televisão portuguesa, encontrando qualidade num programa televisivo, o qual tem um tema semanal e apresentadores diários diferentes. Portanto, conhecedor do potencial dessa ideia, e claro está dos seus elementos, esta associação, decidiu elevar esses padrões, colocando alguma classe, artística por sinal.
A grande diferença verifica-se na finalidade, porque este blog não pretende ser educativo e/ou opinativo, e muito menos entrevistar cidadãos como o David Mota, que não fazemos a mínima ideia de quem se trata, pretende apenas deixar os seus elementos expressarem-se de uma forma livre, sobre o tema.
Os actores deste projecto são:

Às segundas - Jorge Ressurreição: Poeta e actor, estudante de Estudos Românicos na FLUL e ainda vai lá ficar uns anos, membro fundador desta associação;
Às terças - Eduardo Rilhas: Escreve no blog Sem Olhar, estudante na FLUL, actor na curta Inópia, membro fundador desta associação, o seu maior feito foi ser capitão num jogo pela U. Mucifalense;
Às quartas (ladies night) - Cláudia Alves: Licenciada em Estudos Artísticos na FLUL, escritora de crónicas fictícias no blog Sem Olhar, só escreve aqui por ser namorada do Tiago;
Às quintas - Pedro Antunes (deve ser este o nome dele): Tradutor formado, aluno de piano numa academia qualquer (conservatório penso), teclista numa banda de metal melódico chamada Truth & Tale, escreve no blog Coração pela boca em parceria com Cláudia;
Às sextas - Gonçalo Gameiro: Ex-aluno da Esc. António Arroio, pretende seguir pintura na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, alvo preferencial de gozo de Tiago Gameiro, ilustrou a série Projecto 666 do blog Questadizer?, usa um chapéu para tapar a antena que o revela como marciano;
Aos sábados - Tiago Gameiro: Passou por todas as áreas artísticas desde arquitectura ao cinema não sendo bom a nenhuma, aluno de Arquitectura na Lusíada de Lisboa, co-escreve no blog Questadizer com Eduardo, realizador da curta Inópia, baterista da banda de metal melódico Truth and Tale, membro fundador desta associação;
Aos Domingos - Marta Jacinto (podendo ser trocada por um convidado): Estuda Finanças no ISCTE (lol), escreve no blog que nada tem a ver com o que se faz aqui Inblank... também tira fotografias ocasionalmente;

Agora que os intervenientes estão apresentados, resta dizer que este blog não quer saber do que se trata o acordo ortográfico entre países de língua portuguesa e será dado como iniciadas as actividades segunda-feira, dia 7 de Setembro.
Por fim, essencialmente este blog será um alberguista de arte concePTual.

Tiago Gameiro