quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Quarto escuro


Ele diz, de si para si, durante toda a sua espera da velhice:

Não há ar que me chegue, sou um bicho feio e mau, vou cair a qualquer momento. Tenho sede, fome e sono e nem isso me faz sentir mais vivo. Peço esmola de afectos num mundo sem desenho ou ideia do que tal seja. Os meus olhos estão abertos mas sufocam, não têm ar que lhes chegue. Tenho veias que não se acusam e facas de barrar manteiga. Escorre-me a vida vertiginosa, que nem para mim olha, que não mostra sequer sinal de querer saber o que eu penso dela ou de mim.


Já velho, ele diz: Tire-me o cinto e os atacadores, Sr. guarda, que isto assim é demais e de menos para um homem só. E já agora as lâmpadas, que tenho encontro marcado com o papão.
Não há cura para gente tão diferente, isso sim.


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Cláudia Alves




3 comentários:

Maggie disse...

Eu penso que percebi o que quiseste transmitir, e gostei do texto...mas sinceramente, relacionado com este tema, gostaria de ver outra coisa...

Não sei, a ligação ao tema perde-se um bocado aí pelo meio.

Mas o texto está giro!

x and o's

Pedro disse...

Possante.. O jogo de palavras, como sempre, é o melhor deste blog. Mais uma vez...ensina-me xD
***

Kamon disse...

Lindo como sempre. "...e facas de barrar manteiga." E que assim continue, sem ti isto não tem piada.