quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Livre



Sei lá. Quer-me parecer que os pensamentos já não são meus, nem as conversas, nem as gargalhadas histéricas com que me sirvo, nem tudo, nem nada. Que os lugares ocupados estão demasiado vazios e os vazios, demasiado quentes. Que volta tudo de lá do fundo, me bate na cabeça e volta para a prateleira, sem que eu peça nada - dores de cabeça. Cefaleias, mesmo, ordenadas por outrém.
Na mesa do fundo do bar mais claro do sítio, eu escrevo que
No fim é sempre isto, esta sensação de nunca cá ter estado, de nunca ter achado uma percentagem considerável de mim, por aqui. Esta falta de palavras são silêncio a menos, paz a menos e muito menos do que alguma vez desejei. Nunca fui eu por três anos seguidos, vivo num vaivém, marco as desculpas - quantas mais, melhor - como se elas tivessem sido as impostoras de uma vida, fossem elas as viventes e eu, nunca, a sonâmbula. Então, dá-se o fim, então não me encontro, não agora, em encanto algum deste espaço de três anos.
O Guerreiro, Justo e Brilhante, mendiga-me o sangue para o pequeno-almoço. Azar o dele; eu hoje acordei viva.
.
E mal posso esperar pelo caminho de fora da janela.


Cláudia Alves

3 comentários:

Pedro disse...

Epa que dizer? Está lindo e eu vejo-me muito nele...

TheRagnawar disse...

eu achei piada ao texto, mas com certeza não me revejo nele...


foste aos estabelecimentos errados :P

Kamon disse...

Isto melhora a cada nova leitura. Sempre que eu penso no que passaste, imagino uns dadaístas a destruir museus e a dar arte para os artistas!