sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Sonata à Infância


A idade de menino e moço fora vivida rapida mas intensamente, quando os campos eram verde-esperança e os céus azul-limite. Nada existe para nos fazer parar de sonhar quando tudo é belo, e ele não tinha travões por baixo daquele boné. Corria muito durante o dia por campos e vales, cidades e montanhas, luas e desertos. Vivia, vivia, e mais vida tinha, lançando os "porquês" a quem ouvisse, e os poderes mágicos a quem neles acreditasse. Todas as noites havia um Pan que o levasse a voar, quando as luzes se apagavam e o cenário desaparecia, porque era tudo escuro e ele fazia do nada plasticina que moldava em terras do sempre. E que sorriso, que cheiro a borracha, que arranhão lindo no joelho e que mundo o dele!


Então porquê? Porque se foi o menino, e para onde? Eu queria dizer que ele fugiu para longe, que encontrou a sua ilha e por ela se aventurou. Queria que ele tivesse fugido por entre as searas para colher novos aromas e sujar a boca de frutos nos pomares de uma terra longínqua. Mas acho que o afogei e matei. Deixei-o à deriva nas areias da grande ampulheta, e nem me lembro do dia certo em que o fiz. Mas oh se estou arrependido... Que desde esse dia os brinquedos se tornaram armas, os sorrisos se tornaram conveniências, os sonhos se tornaram guerras e os "porquês" sabem a vinagre. Já não voo de noite. Já não tenho plasticina em casa.


Menino e moço, minha flor na tua campa, e teu espírito em mim para sempre, que para sobreviver no real, a imaginação torna-se a cura que já nem nós próprios sabemos aplicar.



Pedro Antunes

1 comentário:

Pseudónima disse...

Pedro, pára de ser Gótico e de afogares e, ainda por cima, matares meninos! xD

Eu compro plasticina, pronto. =)

(Hoje vou arrombar a tua porta)