quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Sub-Viagem


Por muito que a paisagem e as faces mudem a cada passo que damos, por muitas mãos que se enlacem e desenlacem, por muitas voltas que a Terra dê e por muitas vezes que a vida nos troque o passo e o verso, moldando à sua vontade o chão por baixo dos nossos pés, a verdadeira viagem é interior. Ou, se não é a mais verdadeira, é aquela que nunca deixamos de fazer durante toda a vida, e a que nos dá provavelmente a maior riqueza de todas.

Planeta: Mente; Fauna: Pensamento; Flora: Sonho


Na Mente há uma grande mansão, onde há quartos nos quais se respira e cantos em que se sufoca. Às vezes há Pó que se forma no chão e ácaros que esvoaçam pelo ar. E há que arejar o espaço. Quem já abriu as janelas da Mente descobriu uma paisagem sem fim nem horizonte, e fala em pétalas que acariciam a brisa, numa entidade que faz chover vida, em florestas que escondem perigos fascinantes e num céu repleto de mundos que olham lá de cima. Tesouros para os nossos olhos interiores.Mas o verdadeiro respirar não é, obviamente, para quem observa com receio da paisagem interior, mas sim para quem sai.


Quem deixa a mansão inspirar outra coisa que não o nosso ar expirado, e se lança à aventura dentro de sim mesmo - pá e enxada na mão, mochila nas costas, sinceridade nos gestos -constata que por vezes não há melhor opção que viajar sozinho (leia-se consigo, em si, no sub-eu). E pelo caminho, há mil tesouros que se encontram, seja um lado artístico escondido numa orla da estranha floresta, ou a dependência de alguém especial, enterrada algures na terra macia e fértil sobre a qual chove intensamente, e onde apanharíamos pneumonias mentais só pelo ensejo de sentir. E tudo vale a pena, mesmo as silvas e urtigas que é preciso ir removendo pelo caminho.


E não é este o grande viajar? Colher sonhos, amar dores, descansar em seios amados e sobreviver aos perigos do interior. Quase todos conhecem as ruas onde moram e as ruas que visitam, mas poucos se conhecem verdadeiramente. Poucos não se temem. Por isso, abramos as janelas. Deixemos a mansão e aproveitemos a estrada. Sejamos felizes. Connosco e com os outros. Boa viagem.


Pedro Antunes

6 comentários:

Alucard disse...

o meu preferido até agora.
gostei mesmo muito.

Anónimo disse...

Graxista :P
Thanks [[]]

Kamon disse...

Bom ensaio "Freud", esperemos que não te faças repetir num futuro próximo, tipo para a semana. Está bom, sim.

Pseudónima disse...

Cara, você arrebentou! =D É meu amigo, claro.

Bêjo nessa tromba.

(E não matámos a Pimpas.Só que em tempo de guerra.. xD)

Anónimo disse...

E acabei de brincar com a Pimpas, para limpar os remorsos. =x

Maggie disse...

Gostei muito da abordagem.

Até ao próximo.